Esta é a minha participação no concurso A vida nada normal de uma Balzaquiana promovido pela Beta do Mix Cultural .
A DESAJEITADA MULHER DE
TRINTA
Cheguei
aos 30 anos em um piscar de olhos, com uma vida dedicada ao lar. Com um filho de dois anos tendo deixado de
trabalhar para ser mãe em tempo integral. Entrei em crise quando me vi sozinha
com as tarefas domésticas e as responsabilidades de mãe e esposa. Comecei a
trabalhar desde cedo e mesmo não sendo uma leiga nos serviços do lar não tinha
a mesma habilidade que desempenhava no escritório.
Lembro como se fosse hoje que não sabia por onde começar. Marido saía para trabalhar,
filho chorava, cozinha de pernas para o ar, mamadeiras por todo lado, pia com
louça para lavar e pensando o que fazer para comer. Um tempo de vacas magras
que a faxineira só vinha a cada quinze dias cuidando também da roupa, mas as
fraldas e roupinhas do meu filhote criavam pilhas que não tinha como eu ficar
olhando e esperando um milagre.
Muitos foram os dias que entrava em desespero desabando a chorar e me achando a pior das mulheres. Olhava para o meu visual e me achava péssima, o meu corpo não era mais o mesmo, o meu cabelo mais um pouco iria ficar igual à Rapunzel.
Queria tanto casar, ter filhos e não ficar para a titia que não parei para pensar o trabalho que vinha por traz desses sonhos, mas com o tempo fui me organizando e sabendo administrar a casa sendo uma exemplar executiva do lar.
Sobrava tempo para passear na pracinha, bater papo com as outras mamães, ir às festinhas de aniversário, ao teatrinho infantil e até fazer ginástica levando o filhote a tira colo. Ele ficava sentadinho no Moisés e se divertia com os meus exercícios.
E o papai onde estava? Trabalhando durante a semana, sábado não abria mão do seu jogo de futebol e domingo, nada mais do que justo, era todo da família.
Era
difícil me abalar, mas acredito que essa faixa etária – a mulher de trinta – me
tirou do sério quando queria voltar a trabalhar e comecei a procurar emprego.
Foram oito meses de incansáveis entrevistas, passando por vários testes,
ficando entre os três últimos selecionados e a resposta sempre era a mesma. “Infelizmente
você não foi à selecionada, mas a sua ficha está conosco e chamaremos em uma
próxima oportunidade.”
É uma fase que temos um comportamento autocrítico que se não houvesse um controle, entrar em depressão é mais do que certo. Pesa o que você acha, mas mais ainda o que a família e amigos comentam. Com certeza é a chamada crise dos trinta, a crise das inseguranças, a crise dos medos, a crise do quero o colinho da mamãe.
É um fase tão diferente das anteriores e dá uma vontade de voltar a ser aquela menina de quatorze anos ansiosa para chegar aos quinze com direito a tão sonhada festa. E continuamos sonhando em chegar à tão sonhada maioridade aos dezoito anos, sermos dono do nosso nariz , mas essa fase de princesa em busca do seu príncipe encantado passa rápido e quando menos esperamos já chegamos nos “inta” e procurando aproveitar antes que os ‘enta” chegue que vai nos acompanhar por algumas décadas.
Enfim conseguimos nos empregar e começar a carga dupla de trabalho – Casa x Trabalho - que conseguimos desempenhar com louvor. O crescimento profissional facilita a coordenação do lar e a educação dos filhos. O tempo corre e vai chegando ao final da fase dos trinta e só vamos nos tocar quando alguém lhe oferece o lugar no ônibus lotado ou até quando o tratamento muda para “senhora”.
Você acorda para a realidade e vê que aquela jovem adormeceu e que deu lugar a uma senhora e tendo que admitir que passou a ser uma Balzaquiana.
É por isso que digo que quando eu voltar a este mundo quero experimentar ser homem. Será que eles passam pelas mesmas crises que nós mulheres? Será que hoje os homens estão mais presentes nas atividades do lar ?
Acredito
que o crescimento da mulher no mercado de trabalho tenha sido responsável por
alguma mudança , mas ainda existe muita restrição quanto a isso e a mulher
ainda fica com a maior parte.
Não
importa em que época você viveu a fase dos trinta porque seja ontem ou nos dias
de hoje sempre haverá um questionamento a fazer, uma crise a ser vivida.