Como posso olhar para as “crianças” dessa imagem e sentir pena, chamar de coitados, de abandonados, de largados neste mundo a própria sorte, entregues ao vício, a malandragem, se o que mais sinto é medo?
Medo sim de ver essas “crianças” te cercarem chamando de tia e, com a maior normalidade, te espetarem uma gilete nas costas e levarem a sua bolsa, seu relógio - não importa – que levem tudo, mas que me deixem em paz.
Como posso chamar de criança a essas criaturas que agem como adultos e a maestria dos mais perigosos dos marginais?
Como posso chamar de criança a esses pequenos seres que vendem a própria alma por um pedaço de “veneno” que os destrói a cada dia?
Desculpem se as palavras que aqui escrevo possam estar parecendo que sou uma mulher fria, cruel, injusta e com um coração de pedra, mas não sou. Sou uma mulher sensível, justa, amiga, super mãe e esposa que foi educada nos princípios que primam pelo amor ao próximo, pela educação e respeito às crianças e aos mais velhos.
Uma educação que não me preparou para criar defesas contra a marginalidade que foi surgindo e usando como armas as inocentes crianças que hoje transbordam as ruas e assombram a todos.
Educados para um mundo que hoje não existe mais e agredidos por uma violência que não sabemos nos defender. Violência essa que nos leva, sem mais nem menos, a sermos acometidos pelo “medo” em forma de síndrome que surge sem pedir.
Com muito amor da família, apoio médico e psicológico vamos aprendendo a controlar, a conviver, a nos defender, a evitar, mas “ele” continua mesmo que pequenino, continua em forma de sombra em nossa vida.
Como gostaria muito de ter a solução para abraçar essas “crianças” e transformá-las em crianças de verdade que pudessem ter uma família para amar, um lar para morar, uma escola para estudar, amigos para brincar e crescerem vendo um mundo cheio de vida e cores mostrando a sua frente um grandioso futuro.
Gostaria muito, mas essa solução não pode partir da vontade de um cidadão indefeso, e mesmo de um grupo despreparado. Existem muitas comunidades que hoje atuam num lindo trabalho de recuperação, mas poucos são os que conseguem se salvar.
Muitos trabalhos que começam a ser feito desde cedo nas escolas, nas comunidades tem já dado um resultado melhor ocupando os menores com atividades esportivas, educacionais, enfim procurando aliviar um pouco essa triste realidade.
6ª Edição Sentimento

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